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14 de jun. de 2011

Primeira

Amor,

Quando te vi pela primeira vez foi fantástico: olhei fixamente nos seus olhos por questão de segundos, depois desviei o olhar por medo, e, ao fazer isso, eu vi a pessoa do seu lado, que me pareceu muito mais interessante que você. Essa cena seria cômica se agora eu não estivesse em um estado lamentável de saudades da pele que eu toquei tão pouco, que por acaso é a sua. Como a vida dá voltas e nos engana, não? Eu queria nesse momento não ser tão enganável, mas, quem não é assim? Seria uma ilusão enorme achar que a vida não me enganaria, assim como é uma ilusão, e maior ainda, achar que você pode vir a ser a pessoa que vai ficar do meu lado eternamente. Porque, olha bem, você não acredita em namoros e nem muito menos em amor da maneira que eu acredito! E, coincidentemente ou não, são as coisas que eu mais sonho pra mim na eternidade!

E sim, eu me iludo, e com vontade, com desejo, com prazer, com felicidade, com sede, com verdade, e no futuro, quando eu ver isso tudo ir embora, o que eu vou fazer? Porque se é uma ilusão, ela não se concretizará, e eu chorarei mil lágrimas e mágoas de mim mesmo e de você, sendo que você não teve culpa alguma da ilusão que eu estou criando para mim agora... Que na verdade já criei. Isso tudo é muito injusto! Eu prevejo nosso futuro como uma coisa muito clara, fácil de ser antecipada: eu ficarei triste por muito tempo, e você seguirá sua vida. E isso também seria injusto se não houvesse o porém de eu mesmo estar criando essa situação, então a tristeza seria feita por minha culpa, e eu teria de arcar com essa responsabilidade. Sabe de uma coisa? Eu deveria interromper tudo agora, antes que seja tarde, mas, e se agora já for tarde?

Esses são medos (in)comuns, de uma pessoa que vive em um mundo eterno e interno de sentimentos múltiplos. Agora por exemplo, eu sinto raiva, amor, medo, rancor, decepção, saudades, e, metade desses sentimentos não deveriam existir, pois eu não tenho direito de fazer com que eles existam já que eu não posso cobrá-los de você, e não suporto guardá-los em mim. Eu deveria é estar conformado, porque nós não assumimos nenhum contrato social, já que você foi justo o suficiente de dizer quem você é, e eu deveria saber com quem eu estou lidando; e eu sei. Mas saber é abstrato demais, no plano concreto da experiência você é uma pessoa, eu sou outra, e eu não consigo ceder ao impulso de só aceitar quem você é sem abrir minha boca. Dentro de mim existe um impulso maior de querer me mostrar, assim como me mostrei desde o início, me abri e conversei. Se você foi forte por me deixar saber quem você era, eu também fui, pois você sabe quem eu sou. Porque eu deixei que você vasculhasse minha alma e minha vida em apenas duas semanas, e é por conta disso que já é tarde demais pra tomar qualquer atitude; eu me naufraguei na minha futura tristeza através da minha própria coragem.

Mas chega de falar do mal que você fez com que eu me trouxesse, porque mais do que mergulhar na tristeza, eu mergulhei também no amor que você foi capaz de despertar em mim. E se eu escolhi uma carta pra te escrever, é porque eu tinha muito o que falar, incluindo as coisas boas, e eu espero que nessa carta fique claro que elas são mais intensas que as citadas anteriormente. Você me trouxe de volta o amor auto-suficiente mais dependente que eu conheço, que vem de mim, mas depende de outra pessoa, e é bom saber que essa pessoa é você. Você vem me dando nessas semanas o ar que me faltava durante mais de um ano que fiquei as margens da minha carência, e, mesmo que seja uma ilusão,  ainda consigo me sentir amado; não da forma que você pensa o amor, mas da forma que eu penso o amor. Assim me sinto seguro de que você me amparará, mesmo que nosso amor não vingue, como você prometeu. E é por isso que tomei a liberdade e tive a ousadia de te escrever essa carta, e terei a ousadia de continuar contigo e lutar por nós, nos momentos reais e/ou ilusórios. E, apesar de você não acreditar totalmente, eu te amo.

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