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16 de jan. de 2011

"A barata diz que tem[...]"

Inacreditável era a forma que as formigas arrastavam a barata morta anteriormente, naquela noite, e naquele mesmo corredor; como se buscassem um coforto para uma aflição, justamente igual fizera o menino algumas horas antes:

Morta com todo o sangue frio que alguém poderia acumular dentro de si, a coitada da barata foi trazida acidentalmente pela mala que estava no chão da garagem até a sala, e só por dizer que tinha mil dores e chorar desesperadamente(coisas que ela não fez realmente, só na mente doentia do assassino) como todos sempre fizeram com o menino que a ouvia, ele a perseguiu e a matou com apenas uma pisada, mas com toda a mágoa não-extravasada de um dia inteiro escutando coisas que ele não queria ouvir.

Esse foi o triste fim da barata contado pela reportagem que se passava na cabeça do menino, e, para ele, ver as formigas levando seu problema embora como fim dessa reportagem já era um conforto enorme, mesmo não sendo a coisa ideal, pois com isso ao menos o garoto via sua tristeza se dissolver e cair de paraquedas na fossa de seu coração novamente, como sempre tinha acontecido. Mas Tudo o que ele gostaria de fazer era extravasar esse sentimento.

Porque, ora, imaginem vocês no lugar dele! Com certeza seriam a barata que chorava, ou reclamava da vida, ou simplesmente pedia ajuda; mas dessa vez as baratas que fazem isso de verdade! A barata seria vocês e vocês seriam a barata, tudo verdadeiramente. Ao menos a barata morta pelos meninos que não são a barata é vocês de maneira ficcional.

Essa interação estabelecida é uma forma de invasão para ele, pois nesse moço ainda sobra um extremo cansaço de viver por ter que escutar sem se sentir livre pra ser escutado, porque se expor não é a mesma coisa que ser sentido, escutado, querido, amado, confortado; é isso que todos esperam depois de um desabafo. Mas ele não tem a coragem de fazer isso sempre, e assim é obrigado a se contentar com a pequena satisfação que sente em se expor. E, mesmo assim, as baratas continuam dizendo que tem dores, e lamentam, e cobram quando não são confortadas, e se acham no direito de reclamar até umas com as outras quando não são atendidas da maneira esperada, sem nem ao menos pensar se o ser humano do outro lado também pensa, sofre, e se cala por sufocamento; talvez só o comparem com seres tão inúteis quanto baratas.

E aí vai a resposta, baratas ingratas! Desabafei. Me olhem, mas dessa vez me enxerguem! ;**.

P.S.: Ainda bem que existem algumas pessoas que não são baratas.

Um comentário:

  1. Achei lindo o texto Arthur, parabéns! Muito bem escrito, português impecável.
    Aloka pra vc!
    :D

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